Bloqueio do comércio exterior com a Bolívia gera prejuízo de R$ 720 milhões

Desde a noite de 21 de outubro, o acesso para a Bolívia a partir de Corumbá foi bloqueado com veículos, terra e estruturas de madeira. O protesto organizado pelos Comitês Cívicos – similar no Brasil a conselhos estaduais e municipais – mirou principalmente o comércio exterior entre os países.

Como a paralisação está definida por tempo indeterminado, a suspensão forçada no trânsito de caminhões já gerou em torno de R$ 720 milhões em comércio que não foi efetivado. A tendência é de que esse prejuízo prolongue, pois não há prazo para a manifestação ser encerrada.

Esse bloqueio na fronteira tem como objetivo pressionar o governo federal boliviano para aplicar o censo demográfico no país vizinho a partir de junho de 2023, em vez de 2024, como as autoridades locais programam.

O comércio exterior entre os dois países por meio rodoviário e ferroviário passa pelo porto seco da Agesa, onde há fiscalização da Receita Federal e apuração de tributos e desembaraço de mercadorias.

A estimativa da Receita em Corumbá é de que por dia útil os negócios internacionais movimentem em torno de R$ 45 milhões. O tráfego de caminhões na linha internacional só pode acontecer de segunda a sexta-feira. A Agesa, inclusive, é o maior porto seco do Centro-Oeste.

Os manifestantes do Comitê Cívico de Puerto Quijarro, município que fica mais próximo de Corumbá, não liberam o acesso para caminhões desde a manhã do dia 24 de outubro, uma segunda-feira.

Os veículos que chegaram a cruzar a fronteira antes de 21 de outubro sofreram problemas ao longo da rodovia Bioceânica, que leva até Santa Cruz de La Sierra, o principal centro comercial da Bolívia. Além do bloqueio na fronteira, há manifestantes em outros trechos da rodovia.

Autoridades

Conforme apurado no serviço consular boliviano no Brasil, autoridades brasileiras já recorreram para obter informações sobre a situação no país. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) já teria acionado o serviço consular na semana passada para averiguar a situação. Não foi possível confirmar com o governo estadual o contato.

O que as autoridades bolivianas relataram nessas reuniões é que o censo demográfico não será feito em 2023 por questões de logística e administrativas. Essa posição deixa a situação de bloqueio ainda mais sem horizonte de solução, pois os Comitês Cívicos sustentam que não haverá revisão das medidas até agora tomadas.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul, região do Pantanal (Setlog MS Pantanal) apontou que atualmente há 1,2 mil cargas paradas em Corumbá aguardando definição para importação e exportação.

A fronteira do Brasil com a Bolívia, em Mato Grosso do Sul, é um importante hub nacional para a entrada de insumos para produção de fertilizantes, principalmente a ureia.

Dados do Comércio Exterior do Brasil (Comex Stat) indicam que, neste ano, esse foi o principal produto importado da Bolívia, com US$ 810 milhões movimentados entre janeiro e outubro, período que já recebeu parte do reflexo dos bloqueios.

A variação em relação ao mesmo período, porém em 2021, é de crescimento de 123% nas importações.

Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, que gera repercussões em todo o mundo, a questão do fornecimento de fertilizantes para o Brasil sofre impacto direto. Ambos os países são importantes atores na exportação desses insumos.

Pelo fato de a Bolívia estar na fronteira, o país é uma saída para driblar o cenário de guerra na Europa e ter fertilizantes ao menos com custo menor no transporte. Mas esse cenário acabou sendo atrapalhado agora no fim de novembro com o bloqueio.

Comércio Local

O bloqueio na fronteira gera outro impacto negativo, que é para comerciantes de Corumbá. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Sustentável prevê que houve redução de 40% nas vendas de lojas do centro da cidade.

Fontes no setor consular da Bolívia no Brasil afirmaram que entidade da liga árabe corumbaense, que conglomera dezenas de comerciantes e donos de propriedades comerciais, indicou que as vendas reduziram em 70%.

Não há números absolutos calculados sobre o prejuízo nesse setor.

Desde 10 de novembro, há um acordo entre Comitês Cívicos de Puerto Quijarro, Puerto Suárez e Arroyo Concepción para que o fluxo de veículos pequenos seja liberado entre 4h e 9h. Essa decisão foi tomada em caráter liminar, depois de quase 20 dias fechamento da fronteira.

Fonte: Correio do Estado

Leia também: México abre mercado para carne suína brasileira.