Brasil e China criam clearing house para fechar negócios em yuan e reduzir influência do dólar americano

Brasil e China criaram uma “Clearing House” para consolidar sua cooperação comercial e reduzir a influência americana em seus negócios bilaterais. A clearing house é uma instituição bancária que permitirá a concessão de empréstimos e o fechamento de negócios em yuan, a moeda chinesa, entre empresários dos dois países sem que o dólar americano tenha que ser usado na transação. O Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) será o responsável por operar a clearing house no Brasil e garantir a conversão imediata dos ganhos em real, caso eles decidam fechar negócios em yuan.

A China é a maior parceira comercial do Brasil há 13 anos. Em 2022, o volume de transações entre os dois países atingiu o recorde de US$150 bilhões, embora as vendas brasileiras para a China sejam, principalmente, de commodities, enquanto o país asiático exporta ao Brasil produtos de maior valor agregado. Os chineses querem diminuir essa distância e apresentaram essa demanda ao Brasil, que vinha sendo negociada em etapas nos últimos meses.

A criação da clearing house é semelhante ao mecanismo adotado pelos chineses no Chile e na Argentina, ambos países que compõem a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), um programa de empréstimos e financiamentos em infraestrutura de Pequim que tem por prioridade garantir “negócios sem impedimentos” entre a China e seus parceiros.

A entrada do Brasil no BRI divide opiniões no governo brasileiro, já que seria mais um agrado político à China do que uma oportunidade de expansão de negócios. O Brasil já é o maior destino de investimentos chineses no mundo hoje. Os Estados Unidos se preocupam com a entrada do Brasil no BRI, já que tanto a China quanto a Rússia estão tentando implantar mecanismos de negócios que excluam o dólar como forma de pagamento, reduzindo a influência econômica e política americana no mundo e driblando eventuais sanções a Washington.

O fórum de negócios Brasil-China, que contou com a presença de mais de 500 empresários, aconteceu em Chaoyang, bairro nobre da capital chinesa, e seria originalmente liderado pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, ele cancelou a viagem à China de última hora, após ser diagnosticado com uma pneumonia causada por bactérias e pelo vírus da gripe A.

Embora a criação da clearing house tenha sido recebida com pouca empolgação por empresários brasileiros, essa iniciativa pode ser benéfica para as relações comerciais entre Brasil e China. Com a utilização do yuan, empresários brasileiros poderão reduzir custos de transação e aumentar a competitividade no mercado chinês. A longo prazo, isso pode levar a um aumento na exportação de produtos brasileiros de alto valor agregado para a China. No entanto, o Brasil precisa avaliar cuidadosamente a entrada no BRI para garantir que ela traga benefícios econômicos e não apenas políticos.

Leia também: Comércio exterior brasileiro alcança recorde histórico de U$ 607,7 bilhões em 2022